quinta-feira, 9 de julho de 2015

Presságio

 O AMOR, quando se revela,
 Não se sabe revelar.
 Sabe bem olhar p'ra ele,
 Mas não lhe sabe falar.

 Quem quer dizer o que sente
 Não sabe o que há de dizer.
 Fala: parece que mente...
 Cala: parece esquecer...

 Ah, mas se ele adivinhasse,
 Se pudesse ouvir o olhar, 
 E se um olhar lhe bastasse
 P'ra saber que o estão a amar!

 Mas quem sente muito, cala;
 Quem quer dizer quanto sente
 Fica sem alma nem fala,
 Fica só, inteiramente!

 Mas se isto puder contar-lhe
 O que não lhe ouso contar,
 Já não terei que falar-lhe
 Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

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